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Tag: Futebol

Calçou a chuteira, entrou em campo, não é pai, nem filho, nem espírito santo. Calçou a chuteira, entrou em campo, não é doutor, nem músico, nem advogado, nem rico, nem pobre, nem petista, nem religioso, nem ateu, nem corintiano, nem nada. Calçou a chuteira, entrou em campo, não importa se prefere Brahma ou Antártica, Chico ou Caetano, esquerda ou direita. Calçou a chuteira, entrou em campo, tanto faz se tem dente torto, se usa cueca do avesso, se acredita em terra plana, se ama os Beatles e os Rolling Stones. Diploma não chuta a bola. Conta bancária não cabeceia. Posição política não dribla. CPF não desarma o atacante. Crença religiosa não faz gol. Calçou a chuteira, entrou em campo, é jogador

Escrevi uma crônica falando do racha de sexta e o povo do racha de quarta ficou com ciúmes. Exigiu representatividade. Ainda bem que semana só tem sete dias. Vamulá cobrar mais um tiro de meta. Assunto não falta. Mas falar do que especificamente?

Tem várias maneiras de chutar uma bola e várias maneiras de descrever um racha. Péra! Eu disse chutar uma bola? Já sei! Vou falar do Chico. O racha de quarta é o racha do Chico. Pronto, já falei tudo! O que? Você não conhece o Chico? Vou descrever ele para você.

Na primeira vez que fui participar do racha, ele me pediu para pegar uma tampinha dentro de um saco de pano. Sacou que tipo de cara é o Chico? Chico é do tipo que joga futebol de tampinha e não futebol de panela. Nem tinha visto o Chico jogar ainda e ele já tinha feito um gol no meu conceito.

“O que você faz?”, Chico me perguntou. Minha resposta sincera é incompreensível: “eu vivo”. Afinal, o que mais tem para fazer na vida? Mas não ignoro os protocolos sociais, sabia que ele se referia a profissão. O problema é que não tenho uma. Não uma que sirva para responder de bate pronto. Improvisei: “Sou escritor”.

E foi assim que Chico, rotineiramente, começou a fazer uma brincadeira comigo após cada gol seu: “Ae escritor, coloca esse gol no seu livrolá!”.

Chico dribla e chuta muito bem. Aliás, seu jeito de chutar foi o que me inspirou a escrever essa crônica. Chico chuta de bico. Não qualquer bico. Bico no canto. Quase sempre raspando a trave. Pontaria de franco atirador.

Outro dia comentaram que esse é o segredo dele. Para mim, não é segredo, é explícito. Chico não é peito de pé, nem peito de peru, é arroz com dedão. Chico é gol de bico. Sem chute de bico o Chico fica chique e descaracteriza o cara.

Pronto, falei! Espero ter colocado no livrolá metade dos gols que o Chico já fez e me pediu para escrever. Espero também ter colaborado para deixar maiúscula uma habilidade considerada minúscula: o chute de bico.

Dizem que só é possível filosofar em alemão. Que nada! É possível filosofar em português, falando palavrão e jogando futebol. Eis a prova. No meio do jogo, após um fracassado chute a gol, Chico me explica a metafísica do futebol:

— É buceta! É buceeeeeta!

— Do que cê tá falando, Chico?

— Você gosta de buceta?

— Sim, mas do que cê tá falando?

— Do gol que você perdeu.

— E o que tem a ver gol com buceta?

— Gol é buceta! Mete o pé e faz o gol! Enfia a bola na buceta!

— Kkkkkkkk…

Quer mais filosofia que isso? A definição de Chico foi pura psicanálise. Freud ficaria com inveja.

Agora, relembrando e escrevendo, com um pouco de imaginação e sentimento de vingança, consigo ouvir Chico narrando o gol da final da copa do mundo de 2022 entre Brasil e Alemanha. O jogo está 6×0 para o Brasil, mas ainda não é o suficiente para dar o troco pela humilhação de 2014. É o último lance do último minuto de jogo. Chico está narrando o jogo em cadeia nacional:

“É agora ou nunca, nação brasileira! O relógio já passou dos 49 prometidos pelo árbitro. Neymar vai cobrar o escanteio. Chute fechado. O goleiro sai. Dá um soco. A bola fica na entrada da grande área. Sobrou pra Pedro… De frente pro gol!… Chuta, Pedro! Chuta que é buceeeeeta!

Goooooooooooooooooooooooool!

É buceeeeeeta! É buceeeeta! Gol histórico. Pedro! Pedro! Peeeeedro! Enfiou o pé na bola que entrou rasgando a rede e foi pro fundo da buceeeeta! Que golaço! 7×0 pra lavar a alma brasileira!

Chupa, Toni Kroos! Chupa, Beckenbauer! Chupa, Michael Schumacher!

É buceeeta, pooooorra!”

“A cor da sua camisa é solidariedade ao outubro rosa?”, um amigo perguntou.

Homem é assim mesmo, está sempre pensando em um jeito de dizer que o outro é viado. Aprendemos isso na infância junto com os palavrões e os 10 mandamentos do cidadão espartano. Menino usa azul, menina usa rosa. Não pode errar nem se for daltônico. Certa vez, um rapaz comprou uma chuteira puxada para o rosa e foi enviadado no primeiro dia de uso. Nunca mais usou.

Não sei se foi por causa do outubro rosa, mas na sequência da piada, alguém sugeriu: “Escreve uma poesia sobre nosso racha?”. A sugestão ganhou apoio e foi sendo repetida em coro. Coloquei a mochila em cima de uma cadeira e fui fazer alongamento. Começou uma gritaria: “Escreve ae! Escreve ae!”. No que eles estariam pensando ao pensarem em poesia.

“Se eu escrever vocês leem?”, perguntei.

“Claro!”, foi a resposta.

O homem é o único bicho que se olha no espelho. Um pedido como “escreve sobre isso”, é na verdade um pedido de “fale de mim, me espelhe, me conte, me crônica, me poesia”.

Começando pelo paraninfo no grupo, Jordão, figuraça. Depois Didi, o eterno 21. Ronaldinho bravo. Praum com “n”. Danilo tolerância zero. Pedro reclamando do time de merda. Juninho jogando simultaneamente no ataque e na defesa. Filipe fazendo careta. Tupi na banheira. Rodolfo apitando até o lance que não aconteceu. E claro, Frango, o pop star do racha, dançando macarena e mandando beijo para torcida invisível.

Se o racha fosse uma novela, renderia muitos capítulos. Mas se for retratar tudo e todos nessa poesia, que de fato é uma crônica, vou extrapolar todos os limites de um textão. Além do que, a regra espartana é clara: poesia é coisa de viado.

Passei dos acréscimos.

SOBRE SER MACHO (MASCULINIDADE)

Homens não sabem expressar sentimentos, a não ser quando estão bêbados, por isso bebem tanto.
Homens acreditam que sofrimento é mimimi.
Homens acreditam que Deus é homem (macho).
Homens que reprimem o que sentem e pensam tem medo de homens que expressam o que sentem e pensam.
Homens não tem ouvidos (não sabem ouvir).
Homens perdem a saúde por não saberem perder.

SOBRE A CULTURA DO FUTEBOL

Gol é buceta (o que importa é fazer gol, foda-se o resto)
Pode errar todas as questões da prova, pode errar todas as regras de trânsito, pode errar o que for, mas nunca, jamais, pode errar o gol.
Quando você faz gol, você é deus, quando você erra, você é o diabo.
O maior pecado que uma pessoa pode cometer na vida é errar um gol.
Imoral é perder o jogo.
Antiético é perder o jogo.

SOBRE BOA CONVIVÊNCIA

É melhor viver com a porta aberta (expressar os sentimentos).
Quem enfia a faca não sente a dor, por isso, é importante gritar quando dói.
Seu problema comigo, não é problema meu, é seu.
Ser bom não é ser bonzinho.
Apontar o erro do outro só é bem vindo quando ele quer melhorar.
Não adianta conversar com quem quer ganhar. Diálogo só produz boa convivência entre pessoas que estão interessadas em melhorar.
Não tem diferença nem separação entre o futebol e a convivência humana, embora todos acreditem que tenha.

SOBRE MIM

Eu devo continuar fazendo o que sinto e acredito.
O simples fato de eu ser eu faz com que o outro me aprecie (embora nem todos).
Eu aguento o tranco de não me comportar como um macho dentro de um grupo de machos.
Eu prefiro perder o jogo do que perder o amigo.
Eu prefiro acreditar na amizade do que acreditar em Deus.

Dizer a verdade é fácil. Todo mundo já nasce falando a verdade. Mentir não, dá trabalho. Por isso leva um tempo até uma criança aprender a mentir. Mentiras não fazem sentido para as crianças assim como as metáforas. Se você disser para uma criança que fulano é cabeça de vento, ela vai querer olhar dentro da cabeça de fulano, se você disser que fulano é pé frio, ela vai querer colocar a mão no pé de fulano para sentir a temperatura.

Metáforas são mentiras. E são também a prova viva de que a mentira tem lugar no mundo. O que seria da poesia sem a mentira? O que seria do humor? O que seria da literatura? O que seria do teatro? O que seria do cinema? Enfim, o que seria da arte?

Onde há arte há mentira e onde há mentira há arte. E se esse enunciado sobre a mentira for verdadeiro, então, o futebol arte deve ser um grande mentiroso. E é! A mentira no futebol se chama drible. O drible do futebol corresponde ao “faz de conta” da literatura. O jogador faz de conta que vai pela direita, mas é mentira, ele passa pela esquerda. O jogador faz de conta que vai chutar a bola, mas é mentira, ele sai correndo. E assim por diante. E quanto mais mentira melhor.

Mas por que estou falando isso? Porque morreu hoje o maior mentiroso do futebol brasileiro e mundial, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Nenhum jogador contou mentiras mais cabeludas do que ele. Pelé enganou zagueiros e goleiros até sem a bola no pé. Suas mentiras encantaram o mundo e, nós, brasileiros, nos orgulhamos de cada uma delas.

Para terminar essa crônica fúnebre, vou contar uma piada. Uma mulher chega no cartório e diz que quer registrar o filho com o nome de Edson. O escriturário pergunta onde está o filho. A mulher diz que o filho ainda não nasceu. O escriturário manda a mulher embora. A mesma situação se repete várias vezes. Até que o filho nasce. A mulher vai ao cartório e diz que quer registrar o filho com o nome de Pelé. O escriturário pergunta: “Não era Edson?”. Ela responde: “Edson era antes do nascimento.”

Quem inventou essa piada não desconfiava da profecia que estava fazendo: Edson era antes do nascimento. Depois do nascimento, virou Pelé, maior mentiroso do mundo, registrado no cartório do futebol, carimbado com mil gols, para todo sempre.

O acordo tácito é colocar um ou dois. Quando ambos colocam quantidades iguais, sendo que 1+1=2 e 2+2=4, dá par. Quando colocam quantidades diferentes, sendo que 1+2=3 e 2+1=3, pois a ordem dos fatores não altera o produto, dá ímpar.

Simples! Zero bronca! Mas entre aqueles dois não havia acordo. Eram dois mãos de vacas tirando par ou ímpar e decididos a economizar até os dedos. Ambos colocaram a mão fechada. Resultado, deu zero. E foi assim que tudo começou.

— Zero é par!
— Zero é neutro!
— Deixa de ser burro, zero é par!
— Burro é você, zero é zero!
— Pergunta para o fulano, ele sabe.
— Fulano, zero é par ou ímpar?
— Não sei! Tira de novo!
— Nem fodendo, zero é par, eu ganhei!

A discussão docente visava colocar a bola em movimento, mas só estava servindo para mantê-la parada. Para tirar o jogo da inércia, alguém pegou um celular e foi pesquisar no Google.

— Zero é par! — disse o pesquisador.

Está surpreso, caro leitor? Perplexo? Não sabia que zero é par? Nem eu! Mas foi assim, por deliberação do Google, que zero ficou par e finalmente o jogo começou.

Todo racha tem um Rogério, um cara que é um algodão-doce, um ursinho de pelúcia, um diplomata da ONU quando está fora de campo, mas que vira o capeta quando entra. Sabe aquele desenho do Pateta motorista, estilo O Médico E O Monstro, em que o Pateta é um cidadão exemplar até que entra no carro e se transforma no Demônio da Tasmânia? Assim, é um Rogério.

Tinha um Rogério no meu racha, mas tão Rogério, tão Rogério, que nem ele suportou ser tão Rogério e saiu do racha. Parou de jogar futebol. E prometeu que só voltaria a jogar quando estivesse curado. Para se curar, comprou uma bicicleta e virou ciclista. Rogério já pedalou o suficiente para dar três voltas ao redor do mundo e ainda não voltou para o racha.

Ele me disse que não voltará mais. Dependurou o Hulk e as chuteiras. Rogério não existe mais como jogador. Mas ficou o mito, a fama e o adjetivo. Por exemplo, “Você está muito Rogério hoje”, significa que o jogador está gritando muito. “Menos Rogério!”, significa que o jogador deve diminuir o número de reclamações.

Outro dia, tive um atrito em campo com um amigo. Chamei o amigo para conversar no whatsapp. Conversa vai, conversa vem, disse para ele: “Você está pior que o Rogério”. Meu amigo encerrou a conversa furioso e me bloqueou.

Me xinga de fdp, mas não me xinga de Rogério.

A religião fala em sete pecados capitais. Espero que esquecimento não seja um deles, pois me esqueci quais são. Mas lembro da professora de catecismo dizendo que o egoísmo é o pai de todos. Só que ela não explicou por quê. Tive que descobrir sozinho. O futebol me ajudou nisso.

Egoísmo em um corpo se chama câncer. É quando uma célula quer jogar sozinha e foda-se o resto dos jogadores (células). Dá tilt na célula e ela se esquece (olha o esquecimento aê!) que é parte do corpo. A célula ganha do corpo, mas como ela é o corpo, no final, perde por ter ganhado.

No futebol, o comportamento egoísta se chama “fominha”. Tem jogador que passa pouco a bola. Tem jogador que passa muito pouco. Tem jogador que não passa a bola. E tem o fominha, que não passa a bola neeeem fudeeeeendo.

Creio que o fominha é bem intencionado. De alguma forma, assim como a célula cancerígena, ele acredita que está fazendo o bem. Só que não está. O bem que o fominha faz a si, faz mal ao time e o mal do time retorna ao fominha com a derrota na partida.

Não tem coisa mais irritante do que jogar no time de um fominha. Você não vê a cor da bola. Se o time tiver dois fominhas, esquece (olha o esquecimento aê), só os dois vão jogar. Você pode sair de campo, ir ao supermercado fazer compras e voltar, os fominhas nem vão perceber.

Outro dia, no grupo de whatsapp do racha, um participante postou um áudio reclamando de um fominha. Só que não disse o nome, se referiu ao fominha como “loirinho que não toca a bola”. Pra que? Virou caça ao fominha. Quem é o loirinho? Até ruivos e morenos entraram na lista dos suspeitos. Imagina o tanto de fominha que não tem no racha!

Ah! Quer saber se já fui fominha? Se fui, não lembro.

Quando seu nome é Marcelo, por exemplo, a sonoridade é moderna, leve, simples. É como se você morasse em um shopping center e fosse irmão do Chat GPT. Nome antigo é outra história. Quando seu nome é Alcibíades, é o oposto, a sonoridade é complexa e carregada de tradição. É como se você morasse no Coliseu e fosse irmão do Aristóteles. Nome moderno é massa. Nome antigo é pedra de responsa.

Tenho um amigo com nome antigo chamado Rosivaldo. Claro que não é jovenzinho. Jogamos futebol juntos toda segunda e quarta. Rosivaldo joga na defesa. Não sei jogar na defesa. Não sei dar trombada. Mas sei exatamente o que um zagueiro deve fazer: impedir o atacante de passar e fazer gol. É isso que Rosivaldo tenta fazer, só que muitas vezes não consegue mais, por causa da idade. Rosivaldo, assim como eu, você e todo ser vivo, por melhor zagueiro que for, não é capaz de impedir o ataque do envelhecimento.

A idade chegou para Rosivaldo. Ele não consegue mais parar os atacantes usando apenas o fair play. Assim como Cássia Eller, Rosivaldo também precisa de um pouco de malandragem. Daí que vem sua fama de botineiro. Ele chega junto. Bate. Não perde a viagem. No grupo de WhatsApp do Racha tem um meme do Rosivaldo dizendo assim: “Que engraçado! Vou chutar sua canela!”

Um dia desses, Rosivaldo me empurrou escandalosamente durante um lance. Fui conversar com ele, reclamar do empurrão. Ele me falou envergonhado: “Você sabe que não fiz por maldade, não foi para machucar, foi para matar um lance que não consigo mais acompanhar. Você me entende?”. Entendi perfeitamente. Desde então, não me incomodo mais com as faltas de Rosivaldo, assim como não me incomodo com a lerdeza dos velhinhos nas filas de self service, nem com minha mãe me contando pela milésima vez a mesma história de família e depois me perguntando se já tinha me contado.

Nascer é começar a envelhecer. Mas só enxergamos isso quando começamos a usar óculos. A velhice nos dá sabedoria, mas retira todo o resto. Retira a visão, a memória, a força muscular, a elasticidade da pele, as pregas do cu, os cabelos da cabeça e, para o desespero dos homens, a ereção. É impossível vencer o jogo contra o envelhecimento, então, é preciso, pelo menos, diminuir a goleada para manter alguma dignidade em campo. Inventamos o botox, o implante capilar, a lente de contato, o viagra, etc.

No caso de Rosivaldo, o jeito foi abandonar o fair play e usar um pouco de malandragem. O envelhecimento justifica a malandragem de Rosivaldo? Claro que não! Mas justifica essa crônica em celebração a esse ilustre companheiro de racha e todos os jogadores de racha da categoria master. Ah! Observação importante! Se você se sentiu excluído dessa celebração, fique tranquilo, o dia da sua celebração irá chegar.

Fiz um comentário e o taxista não respondeu. Fiquei aflito. Desconfiei que o jogador fosse da família dele. Depois percebi que o taxista não estava me ouvindo, estava ouvindo o jogo. Um taxista que concordasse com o cliente era o mínimo que esperava, mas para evitar uma bola na trave, remediei:

— O senhor é corintiano?
— Já fui, igual meu pai!

Um vira-casaca! Aquele era o segundo caso que conhecia. O primeiro era um amigo de infância.

— Por que mudou de time? — perguntei.
— Culpa do meu pai.
— É sempre culpa do outro! — pensei.
— Antes de ser taxista, eu trabalhava de metalúrgico — ele disse — daí inventaram um teste de aptidão, e quem não passava no teste, era demitido. Não passei nem perto.
— Foi demitido?
— Fui sim, mas quem se chateou mesmo foi meu pai.
— Ele brigou com você!
— Muito pior! Eu era menor de idade e não podia assinar documento, então, meu pai foi receber o dinheiro da rescisão no meu lugar. Maldito dia!
— Maldito, por quê?
— Para me castigar, meu pai bebeu todos meus direitos em cachaça.
— Vixi! Gastou todo seu dinheiro?
— Num dia só. E ficou caído bêbado no chão do boteco.
— E daí você mudou de time?
— Sim, de tanta raiva!

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© 2024 · Marcelo Ferrari