Poesia na orelha
Pimenta no olho alheio
Não tenho receio
Sou culpado
Sei que devo
Não vou negar
Mas chega de falar
Da boca pra fora
Remendo de pano
E assim a gente vai levando
Até Freud explica
Deixa está pra ver como é que fica
Bota um pano quente
Quem sabe um dia de repente
Bode expiatório
E o provisório vira permanente
Poesia na orelha
Não tô aqui pra agradar ninguém
Faço parte sou também
É nois, queiros
Eis a verdade
Ultima e primeira
Coletividade
Pelada, nua e crua, fodida
E brasileira
Descabelada, encardida,
filha de mãe
Solteira
Pedindo esmola no sinal
fechado
Cheirando cola
Numa sacola de supermercado
Há de chegar
Há de chegar o dia
Em que tudo que eu diga
Seja poesia