A mulher cubista no mundo cartesiano
vai a escola triangular
ensinar a dança do quadrado
Anda em círculos pelo tabuleiro de xadrez
Ousa discordar do rei
É trancada na torre e obrigada a ouvir
a ladainha do bispo
A mulher cubista no mundo cartesiano
quer dar um salto quântico
Mas para onde?
No mundo cartesiano, não basta ter coragem
é preciso ter lugar de falo
A mulher cubista no mundo cartesiano
abre a janela e grita:
— Buceeeeeeeeeeta!
Para quem?
Para rainha surda?
Para Rapunzel?
Para Ofélia?
Para grande obra de arte
do mestre Picasso?
Para grande pica de aço
do mestre de obras?
Para Deus?
Deus também é cartesiano
A mulher cubista no mundo cartesiano
vai chorar no chuveiro
para camuflar as lágrimas, os gemidos
e o diagnóstico de histeria
Ela se lembra da tia que morava em Paris
e pulou no Rio Sena, descalça
A mulher cubista no mundo cartesiano
abre a caixinha de pandora
e fica esperando a musica de brinquedo
Mas escuta o órgão sombrio e distorcido
do fantasma da ópera
Tem um alçapão no fundo do útero!
— ela pensa com seus botões —
Nascer mulher é pior que nascer escravo!
Escravo é explicitamente escravo
enxerga seu senhorio
enxerga seu cativeiro
e tem um quilombo para onde fugir
A mulher cubista no mundo cartesiano
desliga o chuveiro histérico
e enxuga as lágrimas com anti-depressivos
Com medo do silêncio eterno
diz ao recém-namorado:
— Eu gosto tanto de parafuso e prego
e o senhor?