Entro no ônibus mastigando agendas. O tempo está contra, mas o trânsito está a favor. Nem sinto o percurso. Quando levanto para descer do ônibus, encontro um rosto familiar no corredor. Vacilo por alguns segundos. Posso fingir que eu não sou eu. Só que não…
— Oi, tudo bem? — pergunto hesitante ao rapaz.
O rapaz me dá um olhar em branco, busca memórias dentro de si e sorri.
— Você aqui!
Descemos do ônibus.
— Mudou para Pinheiros? — ele pergunta.
— Como sabe que mudei?
— Seu irmão me contou.
Filho da puta! Se tivesse dito apenas o nome do amigo a dor era menor. Por que qualificá-lo de irmão? Uma pilha de agendas cai sobre minha cabeça. Sinto vontade de voltar para o ônibus, para casa, para o tênis sujo que usava na juventude.
Trocamos cartões, mentiras urbanas e nos despedimos para sempre.
— Te ligo.