— Vai doer? — ela perguntou ao enfermeiro.
— Vai sim, — respondeu o enfermeiro — não vou mentir para você.
Um minuto depois a moça começou a berrar:
— Paaaaara! Por favor! Paaaara!
Nem parecia injeção. Se não fosse um hospital dava para imaginar uma virgem sendo estuprada. Se bem que essa interpretação não estaria errada. A mulher nunca havia levado uma injeção de Benzetacil antes, o que caracteriza virgindade. Agulha é fálica e penetra sem consentimento, o que caracteriza estupro. Enfim, não sentia a dor da moça, mas consegui imaginar. Fiquei pensando no motivo. A agulha havia endurecido o músculo e a moça andava como se tivesse uma perna de pau. Puxei assunto.
— Ouvi você gritando com a injeção.
— Nossa, achei que ia morrer. Quase desmaiei! — ela disse.
— Foi injeção do que? — perguntei.
— Benzetacil. A perna ficou até dura — respondeu a moça.
— Porque não senta e espera melhorar? — sugeri.
— Poisé! Estou de carro e essa é a perna do desembréio. Quero só ver como vou conseguir mudar de marcha. Mas o enfermeiro disse que só vai passar daqui duas horas. Não dá para ficar duas horas esperando — disse a moça.
— Primeira vez que toma Benzetacil? — questionei.
— Primeira e última! — disse a moça — Perguntei ao enfermeiro qual era o medicamento que fazia efeito mais rápido. Ele disse que era Benzetacil, então, decidi tomar, pois tenho que trabalhar amanhã cedo.
Chegamos na esquina. Fui para direita e a moça seguiu em frente, mancando, apressada, para chegar logo em casa, para dormir, para acordar cedo e bater o cartão em uma máquina de inox indiferente ao que ela pensa e sente.
Como deixei o establishment me pegar? Ah! Os boletos! Pqp! O capitalismo manja mesmo dos paranauês. Para que gastar dinheiro com algemas quando se pode prender mais e melhor através do CPF.