Sou skatista. Conheço bem o medo. Um erro no skate implica em tombo, tombo implica em ir de encontro ao concreto, confrontar o concreto implica em dor, muita dor, então, o medo está sempre presente prescrevendo prudência. “Tem certeza? O chão é duro! Se você cair vai se arrebentar”, diz o medo. Claro que a prudência é bem-vinda e tem lugar de fala na minha vida, mas nunca evolui um milímetro no skate por causa do medo. Aliás, se dependesse do medo, nem skatista eu era, era praticante de algum outro esporte mais seguro como pingue-pongue ou golfe.
Quem empurra o ser humano para superação é sempre o desejo e nunca o medo. O medo é bunda mole, faz de tudo para não perder, mesmo que isso implique em jamais ganhar. O desejo é ousado, vai para cima, quer ganhar, mesmo correndo o risco de perder. Se Santos Dumont tivesse dado ouvidos ao medo, ainda estaríamos viajando em carroças. Se Bill Gates e Steve Jobs tivessem dado ouvidos ao medo, ainda estaríamos lambendo selos e enviando cartas.
Há quem diga que a Croácia ganhou do Brasil na copa do mundo, mas não é verdade. Para ganhar é preciso querer ganhar. A Croácia não jogou para ganhar, jogou para não perder. A Croácia foi prudente. Gastou os 90 minutos de jogo evitando que esse tempo fosse usado para o seu real propósito: produzir um gol. Claro, contando com a punheta dos jogadores brasileiros. O jogo terminou em zero a zero. Placar triunfal para um time medroso. Depois a Croácia gastou o tempo da prorrogação fazendo mais do mesmo e consumou a bundisse nos pênaltis.
O gol de bunda se repetiu em muitas seleções durante a copa. Vários jogos foram ataque contra defesa. Um time tentando fazer alguma coisa acontecer e outro, cagando de medo, impedido que qualquer coisa acontecesse. E, não por acaso, o mesmo acontece na história humana desde sempre. Tem até um cara, bastante famoso, que foi crucificado por abusar da iniciativa.
Quando terminou a partida, entrei no grupo do racha e fui trocar ideia com os amigos. Falei sobre o jogo feio da Croácia e recebi uma mensagem assim: “Pergunta se tem algum croata triste com isso”. Fiquei decepcionado. Não porque uma pessoa falou isso, mas porque expressou a preferência de todos e não apenas no futebol. Para todo lado, não importa a arte, a beleza, a virtude, a excelência e a coragem, o que importa é meu pipi no seu pôpô, seu pôpô no meu pipi. E segue o baile funk!
Será que apenas os hermetismos pascoais, os tons, os mil tons, os Vinis, os Messis, os Neymars, os Mbappés, seus sons e seus dons geniais, nos salvam, nos salvarão dessas trevas e nada mais. O último a sair do breu acende a luz.