Fiquei curioso de ver como ele flexionava o verbo humano. Fui de bicicleta. O templo era uma casa no bairro da Aclimação. Quando cheguei não tinha mais espaço nem para os sapatos empilhados na porta. Devagar e sempre consegui um lugar na escada. A banda mais hare krishna da cidade emendava um mantra no outro. Havia tambores, violões e uma cabaça com dentes de aço.
De repente, a musica parou. Um homem barbudo, vestido de branco, começou a descer a escada. Todos juntaram as mãos em posição de oração. Quando o homem chegou no palco alaranjado — aos olhos da platéia — já não havia mais homem ali.
Foi o início de uma psicanálise em ritmo de bossa nova. Duas palavras, três silêncios, quatro palavras, pausa. Perguntas e respostas. Contrariando a adoração coletiva, deus era humano. Ninguém percebia isso porque a delicadeza do deusólogo em apertar humanos, essa sim era sobrenatural.