Dizem que só é possível filosofar em alemão. Que nada! É possível filosofar em português, falando palavrão e jogando futebol. Eis a prova. No meio do jogo, após um fracassado chute a gol, Chico me explica a metafísica do futebol:
— É buceta! É buceeeeeta!
— Do que cê tá falando, Chico?
— Você gosta de buceta?
— Sim, mas do que cê tá falando?
— Do gol que você perdeu.
— E o que tem a ver gol com buceta?
— Gol é buceta! Mete o pé e faz o gol! Enfia a bola na buceta!
— Kkkkkkkk…
Quer mais filosofia que isso? A definição de Chico foi pura psicanálise. Freud ficaria com inveja.
Agora, relembrando e escrevendo, com um pouco de imaginação e sentimento de vingança, consigo ouvir Chico narrando o gol da final da copa do mundo de 2022 entre Brasil e Alemanha. O jogo está 6×0 para o Brasil, mas ainda não é o suficiente para dar o troco pela humilhação de 2014. É o último lance do último minuto de jogo. Chico está narrando o jogo em cadeia nacional:
“É agora ou nunca, nação brasileira! O relógio já passou dos 49 prometidos pelo árbitro. Neymar vai cobrar o escanteio. Chute fechado. O goleiro sai. Dá um soco. A bola fica na entrada da grande área. Sobrou pra Pedro… De frente pro gol!… Chuta, Pedro! Chuta que é buceeeeeta!
Goooooooooooooooooooooooool!
É buceeeeeeta! É buceeeeta! Gol histórico. Pedro! Pedro! Peeeeedro! Enfiou o pé na bola que entrou rasgando a rede e foi pro fundo da buceeeeta! Que golaço! 7×0 pra lavar a alma brasileira!
Chupa, Toni Kroos! Chupa, Beckenbauer! Chupa, Michael Schumacher!
É buceeeta, pooooorra!”