Resolvemos montar uma banda e cada moleque escolheu um instrumento. Só que ninguém sabia tocar o instrumento escolhido, então, fomos todos para a escola de música aprender. Eu escolhi tocar guitarra, mas como não tinha uma, me matriculei na aula de violão.
Passei as férias tentando tocar os três primeiros acordes que aprendi. Certa tarde, quando já estava exausto, o violão resolveu conversar comigo. Toquei um pouco e percebi que ele dizia: “Nana nana é, nana nana é”. Pude sentir uma frase vindo pela mangueira da imaginação. Continuei tocando e a frase jorrou monofônica: “Anda jacaré, anda jacaré”.
Como a letra ficou pouca, resolvi aumentá-la no dia seguinte. Peguei o violão e coloquei o jacaré para andar. De repente, surgiu uma segunda estrofe: “Só mais um passinho”. Senti que estava prestes a parir minha primeira composição. Toquei mais um pouco e a canção surgiu completa: “Anda jacaré / só mais um passinho / o rio já está chegando / anda jacaré”.
E foi assim que me tornei compositor.