“A cor da sua camisa é solidariedade ao outubro rosa?”, um amigo perguntou.
Homem é assim mesmo, está sempre pensando em um jeito de dizer que o outro é viado. Aprendemos isso na infância junto com os palavrões e os 10 mandamentos do cidadão espartano. Menino usa azul, menina usa rosa. Não pode errar nem se for daltônico. Certa vez, um rapaz comprou uma chuteira puxada para o rosa e foi enviadado no primeiro dia de uso. Nunca mais usou.
Não sei se foi por causa do outubro rosa, mas na sequência da piada, alguém sugeriu: “Escreve uma poesia sobre nosso racha?”. A sugestão ganhou apoio e foi sendo repetida em coro. Coloquei a mochila em cima de uma cadeira e fui fazer alongamento. Começou uma gritaria: “Escreve ae! Escreve ae!”. No que eles estariam pensando ao pensarem em poesia.
“Se eu escrever vocês leem?”, perguntei.
“Claro!”, foi a resposta.
O homem é o único bicho que se olha no espelho. Um pedido como “escreve sobre isso”, é na verdade um pedido de “fale de mim, me espelhe, me conte, me crônica, me poesia”.
Começando pelo paraninfo no grupo, Jordão, figuraça. Depois Didi, o eterno 21. Ronaldinho bravo. Praum com “n”. Danilo tolerância zero. Pedro reclamando do time de merda. Juninho jogando simultaneamente no ataque e na defesa. Filipe fazendo careta. Tupi na banheira. Rodolfo apitando até o lance que não aconteceu. E claro, Frango, o pop star do racha, dançando macarena e mandando beijo para torcida invisível.
Se o racha fosse uma novela, renderia muitos capítulos. Mas se for retratar tudo e todos nessa poesia, que de fato é uma crônica, vou extrapolar todos os limites de um textão. Além do que, a regra espartana é clara: poesia é coisa de viado.
Passei dos acréscimos.