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A
C
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V

Big Belém

25/04/2003 by in category Prosa tagged as , , , , with 0 and 0

O sino da catedral toca igual ringue de boxe. Azul contra vermelho, direita contra esquerda, certo contra errado, o bem contra o mal. A multidão faz apostas urrando, mas os lutadores não escutam nada, estão usando tampões nos ouvidos. Socos, socos, loucos.

De repente, o lutador vermelho é golpeado na cabeça e perde os tampões. Imediatamente, entre os gritos histéricos, ele escuta uma voz dizendo: “Eu te amo”. A frase está saindo da boca do seu oponente, junto com os socos.

O lutador vermelho começa a desviar dos golpes do seu oponente e repetir uma frase de resposta, mas o lutador azul não escuta por causa dos tampões. O lutador vermelho, decide golpear seu oponente na cabeça, com toda sua força, para retirar os tampões dele. Funciona. Os tampões do lutador azul caem e ele escuta a voz do lutador vermelho dizendo: “Eu também te amo”.

Os dois param de lutar.

A multidão continua gritando, mas dentro deles faz silêncio. O punho dos dois lutadores vão se abrindo vagarosamente. Seus corpos vão se aproximando e eles se abraçam. Todas as pessoas se aproximam e se juntam aquele abraço, atraídos por uma força estranha. Eu, você, pessoas de outras cidades, outros países, outros planetas, outras dimensões. Todos em um big-bang de marcha ré.

E o sino da catedral toca igual noite de natal.

© 2023 · Marcelo Ferrari